Um dos meus filósofos favoritos, Richard
Rorty, em seu último artigo intitulado “Fogo da Vida”, o qual escreveu pouco
antes de morrer, confessa as seguintes palavras:
“Como quer que tenha sido, agora gostaria que tivesse passado
mais tempo da minha vida com versos. Isso não é porque tema
ter perdido as verdades que são incapazes de serem afirmadas em prosa. Não existem tais verdades; não existe nada sobre a morte que Swinburne
e Landor soubessem, mas que Epicuro e Heidegger fracassaram em descobrir. Ao
contrário, é porque teria vivido mais plenamente se tivesse sido capaz de
recitar mais velhas castanhas – da mesma
forma que também teria se tivesse tido mais amigos íntimos. Culturas com
vocabulários mais ricos são mais plenamentes humanas – mais distantes das
bestas – do que as mais pobres; homens e mulheres individuais são mais
completamente humanos quando suas memórias estão amplamente estocadas com
versos.” (RORTY, 2007, grifo nosso).
Nestes últimos dias tenho ponderado com profundidade sobre a minha vida. Passei
horas durante a madrugada rememorando minhas
vivências e experiências que se adunaram em todos os meus anos de vida. Derramei
algumas lágrimas, emiti alguns soluços, desvelei alguns sorrisos e gargalhadas,
contudo um silêncio eclodiu diante da pergunta que me fiz: “tenho vivido
plenamente?”.
Após alguns minutos, que se deixaram sentir como horas, lembrei-me da
passagem do último escrito de Rorty, e subitamente emergiu em memória algumas pessoas
que caminharam ao meu lado ao longo dos anos. Pessoas como eu, inacabadas,
inconclusas, indefinidas, todavia diferente de mim, com suas idiossincrasias,
suas próprias redes de crenças e desejos. Nossos encontros, diálogos e
conversações, provocaram e impulsionaram a ampliação de meus versos, minhas
rimas, minhas canções, minhas próprias crenças e desejos que me constituem em
sujeito. A liberdade cultivada em cada compartilhar de palavras, ideias,
ideais, dúvidas, sonhos, projetos, vivências, fé, ciência, tempo e ausência,
germinou em augusta amizade cujo liame é a própria seiva que alimenta e torna a
vida plena.
Afinal, tenho vivido plenamente? Meus versos dizem que sim quando em
composição misturam a rima e o som de uma narrativa mais humana e cuja história
entretecida conta os nomes de pessoas que se
fizeram presente em tantos dias nebulosos.