Enquanto tu dormes, eu existo
Enquanto tu dormes, eu existo
Será que sonho sou de teu toscanejar?
Despertar taciturno de teus desejos moribundos
Entre as brumas do lúgubre véu noturno
Tateando as tuas sombras que ignoras ao dormitar
Enquanto tu dormes, eu existo
Resido nos espaços entre o teu dizer
Entre tua atonia e espasmos hípnicos
Oculto em tuas palavras em soníloquo
No tênue limiar entre a noite e o amanhecer
E se dormisse eu, me afogarias em artimanhas
Pois encobres o pungente odor das tuas entranhas
Estranhas, a vetustez de tuas dores
As soturnas cores de teus amores
Olvidas, empedernido, teus dissabores
Mas eu não durmo, e ao meu pulsar crês ser indolente
Ofuscas em quimera meus espectros oníricos latentes
Ignescentes, permanecem em tua derme reminiscente
Delineando a silhueta de quem és em tua mente
Mentes, dissimulas, deslocando-me metonimicamente
Enquanto tu dormes, eu existo
Ao despertares, em teu imo persisto
E em vislumbre, frêmito transfigurar
Quando sem pretexto no espelho ousas mirar
A tua imagem refletida através do meu olhar
(Kevin Leyser)