terça-feira, 3 de setembro de 2013

"I Have a Dream" de Martin Luther King Jr.


50 anos do discurso "I Have a Dream" de Martin Luther King Jr., palavras vivas que ainda ecoam no vazio de nossas ações e retumbam nos estilhaços do espelho opaco de nosso ego. 

Um sonho, ainda um sonho, de não "nivelar o outro" (como diria Kierkegaard) entre a "massa dos iguais", assim como de não rejeitar/desprezar o outro como indigno por não ser como eu - como penso, desejo, creio, imagino que "deveria" ser. 

Um sonho em que a liberdade é o chão comum da unidade (com-unidade), em que um não deixar de ser quem é, e pode mesmo assim estar-com um outro que também é. 

Um sonho de liberdade, o terreno fértil que germina o amor. Como diria Rorty - e que ouçam os inveterados "defensores da 'Verdade'" - "Cuidem da liberdade, que a verdade cuidará de si mesma". 

Ontem mesmo, pela madruga, devo ter vibrado pelas ondas peremptórias da mensagem do Dr. Martin L. King Jr., e singelamente (sem lucidez da possível inspiração), pus-me a versejar o fragmento exposto no post logo abaixo - "Sonho Concreto".

Dedique um tempo para ler ou ouvir a mensagem de Luther King, viva e lute pela liberdade, pois somente nela o discurso do amor alcança sua verdade.

Sonho Concreto


Sonho Concreto
Kevin D. S. Leyser


Desadormeço do dogmático torpor
Pálpebras pesadas, excisadas pela angústia e dor

Desnudado de escusas, vulnerável ao amor e à vida
Insurreto do leito da morte de palavras vazias

Descalço, cônscio do humo na epiderme
Do gérmen dos passos no mundo de Hermes

Não ouso evadir o sonho concreto
Do outro e eu sob o mesmo teto

Do encontro na solidão
Do desespero rasgando a pele espessa da escravidão 

Do toque de ásperas mãos 
Tateando o corpo da libertação

Dos inaudíveis gemidos, daqueles não escolhidos 
Perfurando os ouvidos ungidos e altivos 

Da tinta das páginas de histórias de glória
Manchadas com o sangue, com a carne e com o osso da “escória”.