TRADUÇÕES






MEDIDAS DE EMOÇÃO: UMA REVISÃO

Iris B. Mauss
University of Denver, Denver, CO, USA
Michael D. Robinson
North Dakota State University, Fargo, ND, USA

Tradução de Kevin Daniel dos Santos Leyser 
[MAUSS, Iris B.; ROBINSON, Michael D. Measures of emotion: a review. Cognition and Emotion, 2009, 23 (2), p. 209-􏰀237.]

Resumo:                      

Um modelo consensual, componencial de emoções as conceitualiza como respostas experienciais, fisiológicas e comportamentais a estímulos pessoalmente significativos. A presente revisão examina este modelo em termos de se diferentes tipos de estímulos evocativos de emoção estão associados a padrões discretos e invariantes de responder em cada sistema de resposta, como tais respostas são estruturadas, e se tais respostas convergem em diferentes sistemas de resposta. Através dos sistemas de resposta, a maior parte da evidência disponível favorece a ideia de que as medidas de resposta emocional refletem dimensões em vez de estados discretos. Além disso, sistemas de respostas experienciais, fisiológicas e comportamentais estão associados a fontes únicas de variância, o que limita a magnitude da convergência das várias medidas. Assim, os autores sugerem que não há nenhuma medida de reposta emocional que seja de um ''padrão ouro''. Em vez disso, mediadas experienciais, fisiológicas e comportamentais são relevantes para a compreensão da emoção e não podem ser consideradas como sendo intercambiáveis.

Palavras-chave: Emoção. Mensuração. Auto-relato. Sistema Nervoso Autonômico. Modulação de Alarme. Sistema Nervoso Central. Comportamento. Especificidade.

Do ponto de vista leigo intuitivo, deve ser fácil determinar se alguém está experienciando uma emoção particular. No entanto, evidências científicas sugerem que mensurar o estado emocional de uma pessoa é um dos problemas mais complicados na ciência dos afetos. Para organizar a nossa revisão de pesquisas relevantes referentes a esta questão, tomamos como ponto de partida um modelo consensual, componencial de emoção (ver Figura 1). Neste modelo, uma resposta emocional começa com uma avaliação do significado pessoal de um evento (Lazarus, 1991; Scherer, 1984; Smith & Ellsworth, 1985), que por sua vez dá origem a uma resposta emocional que envolve experiência subjetiva, fisiologia, e comportamento (Frijda, 1988; Gross, 2007; Lang, 1988; Larsen & Prizmic- Larsen, 2006). A presente revisão examina se os estímulos evocativos de emoção estão associados a padrões distintos de responder em cada sistema, como essas respostas parecem ser estruturadas, e se tais respostas convergem (isto é, são coordenadas ou correlacionadas) uma com a outra.

FIGURA 1. Um componente consensual de resposta emocional.


                                    
Pela razão de que as literaturas que são relevantes para as questões examinadas aqui são extensas, a presente revisão deve ser seletiva. Em nossa avaliação, nós nos concentramos em estudos envolvendo amostras não-clínicas em humanos adultos e não crianças, animais ou populações clínicas. Nós nos concentramos nos componentes das respostas representadas na Figura 1, em vez de antecedentes cognitivos e correlatos de emoção. Para restringir ainda mais o âmbito da nossa análise, vamos nos concentrar em estados emocionais em vez de traços associados à emoção, como extroversão e neuroticismo (ver Matthews & Gilliland, 1999; Robinson & Neighbors, 2006; oxidação, 1998, para comentários relevantes). Finalmente, focamos a nossa avaliação sobre as medidas mais utilizados para cada sistema de resposta.

Ao longo de nossa revisão, examinamos resultados de ambas as perspectivas dimensional e discreta. De acordo com a perspectiva dimensional, existem algumas dimensões fundamentais que organizam as respostas emocionais. As dimensões mais comumente assumidas são de valência, excitação (por vezes referido como a ativação) e aproximação-evitação (Davidson, 1999; Lang, Bradley, e Cuthbert, 1997; Russell & Barrett, 1999; Schneirla, 1959; Watson, Wiese, Vaidya , & Tellegen, 1999). A dimensão valência contrasta estados de prazer (por exemplo, feliz) com os estados de desagrado (por exemplo, triste), e na dimensão excitação contrasta estados de baixa excitação (por exemplo, calmo) com estados de alta excitação (por exemplo, surpreso). A motivação de aproximação é caracterizada por uma tendência para se aproximar estímulos (por exemplo, como seria provavelmente facilitado pelo entusiasmo), ao passo que a motivação de evitação/evasão é caracterizada por uma tendência para evitar estímulos (por exemplo, como seria provavelmente facilitado pela ansiedade).

Investigadores discordam em certa medida sobre qual esquema dimensional deve ser utilizado e como diferentes dimensões se relacionam entre si. Por exemplo, alguns teóricos afirmam que as emoções positivas e negativas são inversamente relacionadas (Russell, 1980), mas outros favorecem a visão de que as emoções positivas e negativas são relativamente independentes entre si (Larsen, McGraw, & Cacioppo, 2001; Tellegen, Watson, e Clark, 1999). Além disso, alguns argumentam que a aproximação e evitação são mais ou menos sinônimos de estados emocionais positivos e negativos, respectivamente (Watson et al., 1999). No entanto, como apresentamos a seguir, alguns estados emocionais como raiva causam problemas para este ponto de vista, na medida em que sugerem uma dissociação de valência e aproximação-evitação (Harmon-Jones & Allen, 1998). De modo mais geral, a nossa avaliação vai deixar claro que diferentes medidas de emoção são particularmente sensíveis a diferentes dimensões; Assim, para medidas diferentes esquemas dimensionais diferentes são mais apropriados. Embora enquadramentos dimensionais discordam em algumas de suas especificidades, eles concordam que os estados emocionais podem ser organizados em termos de um número limitado de dimensões subjacentes.

Em contraste, a perspectiva de emoções discretas alega que cada emoção (por exemplo, raiva, tristeza, desprezo) corresponde a um perfil único na experiência, fisiologia e comportamento (Ekman, 1999; Panksepp, 2007). É possível conciliar perspectivas dimensionais e discretas, em certa medida, propondo que cada emoção discreta representa uma combinação de várias dimensões (Haidt & Keltner, 1999; Smith & Ellsworth, 1985). Por exemplo, a raiva poderia ser caracterizada por valência negativa, de alta excitação, e motivação de aproximação, ao passo que o medo pode ser caracterizado por valência negativa, de alta excitação, e motivação de evitação. Apesar destas considerações, as perspectivas dimensional e discreta diferem em como conceituam e descrevem os estados emocionais (Barrett, 2006b). Por esta razão, nós contrastamos tais perspectivas em nossa revisão.

Para orientar o leitor, a Tabela 1 apresenta uma visão geral das medidas de avaliação para cada sistema de resposta descrita no modelo consensual da Figura 1. A Tabela 1 também resume as nossas conclusões sobre os aspectos do estado emocional melhor capturado por cada medida. Começamos pela revisão das medidas de auto-relato da emoção.

TABELA 1
Panorama dos sistemas de respostas, medidas, e estados emocionais aos quais elas são sensíveis.

Sistema de Resposta
Medida
Sensibilidade
Experiência Subjetiva
Auto-relato
Valência e excitação
Fisiologia Periférica (SNA)
Mensuração do Sistema Nervoso Autonômico (SNA)
Valência e excitação
Reflexo de Alarme afeto-modulado
Magnitude da resposta de Alarme (Startle)
Valência, particularmente em níveis elevados  de excitação
Fisiologia Central (SNC)
EEG

fMRI, PET
Aproximação-evitação

Aproximação-evitação
Comportamento
Características vocais: Amplitude, tom

Comportamento facial: classificação do observador

Comportamento facial: EMG

Comportamento do corpo inteiro: classificação do observador
Excitação


Valência; alguma especificidade de emoção

Valência

Alguma especificidade de emoção


MEDIDAS DE AUTO-RELATO DA EMOÇÃO

Em nossa visão, a validade dos auto-relatos da emoção é muitas vezes vista como um fenômeno tudo-ou-nada. Aqui, seguimos Robinson e Clore (2002), que concluíram que o grau em que os auto-relatos são válidos varia de acordo com o tipo de auto-relato (ver também Robinson & Sedikides, no prelo). Especificamente, auto-relatos de experiências emocionais atuais tendem a ser mais válidos do que são os auto-relatos emocionais feitos em um tempo relativamente distante da experiência relevante (Robinson & Clore, 2002). Em um estudo muito interessante, por exemplo, Barrett, Robin, Pietromonaco e Eyssell (1998) solicitaram homens e mulheres que relatassem em seus traços emocionais ''em geral'', bem como sobre as suas reações emocionais a acontecimentos da vida diária. Diferenças de gênero nos traços emocionais foram proeminentes e amplas, enquanto que as diferenças de gênero na experiência diária foram bastante escassas e inconsistentes, o que sugere que os relatórios de traço de emoção são mais tendenciosos (neste caso por estereótipos de gênero) do que relatórios feitos diretamente após um evento. Conceitualmente resultados semelhantes foram relatados quando solicitado às pessoas estimarem suas respostas passadas ou prováveis futuras a eventos emocionais (por exemplo, Mitchell, Thompson, Peterson, e Cronk, 1997). Com base em tal evidência de viés, tendenciosidade, Robinson e Clore concluíram que os auto-relatos da experiência atual dos indivíduos (''on-line'') são susceptíveis de serem mais válidos do que auto-relatos relativos ao passado, futuro ou experiências relacionadas com o traço de emoção.

No entanto, há preocupações de que até mesmo os relatos de emoção ''on-line'' podem ser tendenciosos entre certos grupos de indivíduos. Por exemplo, pensa-se que os indivíduos com níveis altos em desejabilidade social podem estar menos dispostos e/ou capazes de relatar os estados emocionais negativos (Paulhus & Reid, 1991; Welte & Russell, 1993). Embora esta sugestão provou-se um pouco controversa (Shedler, Mayman, e Manis, 1993; Taylor, Lerner, Sherman, Sage, e McDowell, 2003), há uma preocupação de que os indivíduos com alta desejabilidade social podem dar relatos menos válidos de suas emoções (Paulhus & John, 1998). Uma segunda variável de diferença-individual relevante é a alexitimia. Tem sido sugerido que os indivíduos com alta alexitimia reagem a estímulos emocionais, mas são menos capazes de conceitualizar as suas experiências emocionais de uma forma conducente ao auto-relato (Lane, Ahern, Schwartz, & Kaszniak, 1997). Em suma, existem diferenças individuais na consciência de e na vontade para reportar sobre os estados emocionais que potencialmente comprometem até mesmo os relatos on-line da experiência emocional.

Finalmente, um dos objetivos de nossa análise é comparar perspectivas dimensionais e discretas de resposta emocional. No domínio dos estados emocionais auto-relatados, é bastante claro que as dimensões, como a valência e a excitação (Russell & Barrett, 1999) ou tendências para a aproximação e a esquiva (Watson et al., 1999) capturam a maior parte da variância. Na verdade, a natureza dimensional de respostas emocionais auto-relatadas é tão substancial que tem sido sugerido que os correlatos dimensionais da emoção auto-relatada sejam examinados em primeiro lugar antes que haja qualquer reivindicação legítima de especificidade emocional (Watson, 2000).

Resumo. Auto-relatos de emoção são susceptíveis de ser mais válidos na medida em que eles se relacionam com emoções atualmente experienciadas. Mesmo neste caso, no entanto, há preocupações de que nem todas as pessoas estão conscientes e/ou capazes de relatar os seus estados emocionais momentâneos. Finalmente, a Tabela 1 resulta de nossa revisão dessa literatura em sugerir que os quadros dimensionais, em relação aos discretos, captam melhor essa medida da emoção.


MEDIDAS AUTONÔMICAS DA EMOÇÃO

O sistema nervoso autônomo (SNA) é um sistema fisiológico de propósito geral responsável ​​por modular funções periféricas (Ohman, Hamm, & Hugdahl, 2000). Este sistema consiste em ramificações simpáticas e parassimpáticas, que são geralmente associadas com a ativação e o relaxamento, respectivamente. Devido à natureza de finalidade geral do SNA, a sua atividade não é exclusivamente uma função de resposta emocional, mas sim engloba uma ampla variedade de outras funções relacionadas com a digestão, a homeostase, esforço, atenção, e assim por diante (Berntson & Cacioppo de 2000). Este é um ponto importante, porque muitas vezes não está claro se a atividade no SNA reflete processos emocionais ou, talvez, em vez disso, outras funções subservidas pelo SNA (Obrist, Webb, Sutterer, e Howard, 1970; Stemmler, 2004).

Os índices de ativação do SNA mais comumente avaliados são baseados em respostas eletrodérmicas (i.e. das glândulas sudoríparas) ou cardiovasculares (ou seja, do sistema circulatório do sangue). Respostas eletrodérmicas é normalmente quantificada em termos de nível de condutância da pele (SCL) ou de respostas da condutância da pele curta duração (SCRs). As medidas cardiovasculares mais comumente utilizadas incluem a frequência cardíaca (FC), pressão arterial (PA), a resistência periférica total (RPT), o débito cardíaco (DC) – cardiac ouput (CO) –, o período de pré-ejeção (PEP), e variabilidade da frequência cardíaca (VFC). Cada uma destas medidas varia em termos de se reflete, principalmente, a atividade simpática, a atividade parassimpático, ou ambas. Por exemplo, o SCL e o PEP refletem predominantemente a atividade simpática, a FC e a PA refletem uma combinação de atividade do simpático e do parassimpático, e a VFC foi intimamente ligada à atividade parassimpática (Cacioppo, Berntson, Larsen, Poehlmann, e Ito, 2000).

James (1884) foi um dos primeiros psicólogos a sugerir que diferentes estados emocionais (por exemplo, tristeza, raiva, medo) envolvem padrões específicos de ativação do SNA. As especulações de James tem sido centrais para muitas teorias importantes da emoção (Ellsworth, 1994; Lang, 1994), apesar de que Ellsworth adverte que seria um erro igualar a teoria de James com as respostas do SNA periféricos consideradas isoladamente. No entanto, grande parte da pesquisa inspirada pela teoria da emoção de James se concentrou em medidas do SNA. Uma das razões para o interesse científico continuar na especificidade autonômica é que as pessoas geralmente acreditam que suas emoções envolvem padrões distintos de ativação do SNA (como o link presumido entre a ansiedade e o aumento da frequência cardíaca: Scherer & Wallbott, 1994). No entanto, a validade de tais crenças é suspeita porque percepções de respostas do SNA geralmente não são preditivas das respostas reais do SNA (Mauss, Wilhelm, & Gross, 2004; Pennebaker, 1982).

Além disso, embora algumas evidências para a especificidade autonômica tem sido relatada (Christie & Friedman, 2004; Ekman, Levenson, & Friesen, 1983; Stemmler, Heldmann, Pauls, & Scherer, 2001), uma recente meta-análise tem caracterizado tais efeitos como inconsistentes (Cacioppo et al., 2000). Nesta meta-análise, apenas um pequeno conjunto dos 37 medidas do SNA revisadas fidedignamente diferenciaram emoções discretas e resultados replicáveis ​​foram específicos para comparações particulares (por exemplo, a temperatura do dedo diminui menos na raiva do que no medo, mas a temperatura do dedo não diferencia outras emoções discretas). Além disso, embora tenha havido diferenças médias em algumas respostas do SNA em todas as emoções, os resultados foram altamente inconsistentes através dos estudos. Por outro lado, os diferentes métodos de indução (por exemplo, expressões faciais dirigidas versus clipes de filmes) têm efeitos muito mais fidedignos ​​sobre as medidas do SNA que diferentes emoções, novamente com destaque para a escassez de suporte para a hipótese da especificidade autonômica (Cacioppo et al., 2000).

Dadas estas considerações, pode ser melhor ver as respostas do SNA em termos de dimensões mais amplas, como a excitação (Cacioppo et al, 2000;. Duffy, 1962; Malmo, 1959). Em apoio a este ponto, Peter Lang e colegas mostraram, em uma série de estudos (por exemplo, Bradley & Lang, 2000b; Lang, Greenwald, Bradley & Hamm, 1993), que o SCL aumenta sistematicamente e de forma linear de acordo com a excitação classificada de estímulos emocionais (por exemplo, slides). Além disso, os mesmos estudos descobriram que as relações entre a excitação estímulo e a atividade SCL são independentes da valência do estímulo, o método de indução de emoção, e, de fato, qual emoção específica é alvejada pela indução. Esses resultados são consistentes com as teorias que alegam a atividade do SNA indexa o nível de excitação do estado emocional ao invés de sua base emocional discreta (Arnold, 1960; Cannon, 1931; Duffy, 1962).

No entanto, nem todas as medidas das respostas do SNA mapeiam-se em uma única dimensão. De acordo com o princípio da "fracionamento direcional” (Lacey, 1967), as diferentes medidas da atividade do SNA podem operar de forma independente ou mesmo em oposição uma à outra. Por exemplo, redução da FC pode co-ocorrer com aumentos na atividade simpática, como avaliadas por outras medidas da SNA (Bradley & Lang, 2000b;. Lang et al., 1997; Libby, Lacey, & Lacey, 1973). Para explicar tal fracionamento do sistema do SNA, pelo menos uma dimensão adicional deve ser tida em consideração (Cacioppo et al, 2000;. Russell & Barrett, 1999). Konorski, e mais tarde Lang (Konorski, 1967; Lang, Bradley, e Cuthbert, 1990;. Lang et al, 1997) propôs sistemas apetitivos e aversivos como a segunda dimensão importante da resposta do SNA; outros propuseram uma dimensão de valência semelhante (Cacioppo et al, 2000;. Russell & Barrett, 1999). Por exemplo, a meta-análise de Cacioppo e colegas (2000) revelou que a pressão arterial, o débito cardíaco, a frequência cardíaca, e a duração da resposta da condutância da pele respondem à valência emocional.

Embora as medidas da SNA individuais pareçam sensíveis às dimensões em vez de estados emocionais discretos, a consideração conjunta de múltiplas medidas de SNA pode apoiar um maior grau de especificidade autonômica (Cacioppo et al., 2000;. Stemmler, 2004). Por exemplo, Stemmler relata que a raiva e o medo, apesar de serem correspondidos em termos de valência e excitação, pode ser diferenciados por uma combinação de medidas cardiovasculares e respiratórias. Da mesma forma, Kreibig, Wilhelm, Roth, e Gross (2007) constataram que onze medidas de SNA, consideradas em conjunto, diferenciaram respostas à clipes de filmes indutores de medo versus indutores de tristeza (emparelhados na valência e na excitação) com uma precisão de 85%. Assim, as combinações de várias medidas da SNA podem produzir melhores previsões de estados emocionais discretos. No entanto, os dados deste tipo, muitas vezes capitalizam sobre achados de amostras-específicas e devem ser vistos como provisórios na ausência de replicações.

Lembre-se, também, que as medidas do SNA servem a múltiplos mestres, incluindo as demandas de tarefas percebidas e reais, as avaliações de coping, e o comportamento motor (Obrist et al., 1970; Stemmler, 2004). Por esta razão, pode ser problemático visualizar qualquer padrão do SNA como um simples reflexo do estado emocional do indivíduo. Tais considerações são particularmente problemáticas para perspectivas que enfatizam uma influência invariável, não  mediada da emoção na resposta fisiológica (Panksepp, 1999; Tompkins, 1995). Em contrapartida, se virmos as emoções como intrinsecamente ligadas às demandas de tarefa, ao enfrentamento (coping), e ao comportamento motor (Ekman, 1999; Larsen, Berntson, Poehlmann, Ito, & Cacioppo, no prelo; Levenson, 2003; Stemmler, 1989), então é uma preocupação menor que a atividade do SNA responda a ambos estados emocionais e fatores não-emocionais.

Resumo. A ideia de que as emoções discretas têm distintas assinaturas autonômicas não têm muitas justificativas na literatura. Em vez disso, estudos relevantes muitas vezes apontam para as relações entre as dimensões, em particular as de valência e de excitação, e respostas SNA. É possível que, consideráveis padrões de múltiplas medidas do SNA levarão à especificidade autonômica no futuro, mas é necessário mais pesquisas antes de podermos afirmar tais conclusões. A Tabela 1 reforça, assim, a nossa principal conclusão que as medidas do SNA respondem principalmente aos aspectos dimensionais dos estados emocionais.

MAGNITUDE DE RESPOSTA DE ALARME (SOBRESSALTO)
COMO MEDIDA DA EMOÇÃO

O sobressalto ou alarme, em resposta a um estímulo súbito e intenso é um reflexo universal que envolve várias ações motoras, incluindo tensão dos músculos do pescoço e das costas e um piscar de olhos (Landis & Hunt, 1939). A resposta de alarme serve a uma função de proteção contra uma potencial lesão corporal (em especial do olho) e serve como uma interrupção comportamental que é pensada facilitar a vigilância em relação a uma possível ameaça (Graham, 1979). Em apoio a esta hipótese, a amígdala, que é uma estrutura cerebral envolvida centralmente em vigilância e detecção de ameaças (Whalen, 1998), desempenha um papel fundamental na modulação da resposta de sobressalto em contextos de ameaça (Davis, 1989; Koch & Schnitzler, 1997). Porque a resposta de sobressalto reside, portanto, na interseção de vários sistemas de resposta (SNA, SNC e o comportamento), nós o descrevemos em uma seção separada.

O componente mais robusto da cascata comportamental que constitui o reflexo de sobressalto ou de alarme é um piscar de olho, o pestanejar. Portanto, a amplitude do piscar de olhos é geralmente usado para indexar a magnitude do sobressalto entre os participantes humanos. Esses procedimentos envolvem uma medição eletromiograma (EMG), em que a atividade muscular é avaliada a partir de eletrodos colocados sobre o músculo orbicular dos olhos, logo abaixo da pálpebra inferior. O estímulo eliciador de alarme (startle) mais comumente utilizado é o chamado ''sonda de sobressalto'' (startle probe), uma breve (50 ms) explosão de ruído branco dentro do intervalo de 95-􏰀110 decibéis.

Partindo, em certa medida, do trabalho de Davis (1989), Lang (1995) fez um forte argumento para a utilidade da amplitude de sobressalto, como medida de emoção. A lógica aqui é que, quando o sistema de evitação é ativado por um estado emocional negativo, então as respostas defensivas (incluindo o reflexo de sobressalto) devem estar primadas (primed) e, assim, aumentadas em relação a estados neutros duradouros. Por outro lado, níveis mais elevados de motivação de aproximação do mesmo modo inibem tendências a uma orientação defensiva e, assim, devem ser associados a uma magnitude resposta de sobressalto menor em relação aos estados neutros. Lang (1995) mapeia a aproximação e a evitação em estados emocionais positivos e negativos e, portanto, hipotetiza uma relação linear inversa entre a valência do estado emocional de uma pessoa e a magnitude da resposta de sobressalto.

A hipótese de Lang (1995) tem sido fortemente apoiada. Vários estudos têm demonstrado que quando as sondas de sobressalto são entregues no contexto de imagens e sons que variam de valência, a magnitude da resposta de sobressalto é maior no contexto de estímulos desagradáveis ​​e menor no contexto de estímulos agradáveis, ambas em relação aos estímulos neutros (Bradley, Cuthbert, e Lang, 1993; Bradley & Lang, 2000a; Vrana, Spence, e Lang, 1988). Esses efeitos têm sido associados a valência emocional em vez de estados emocionais discretos (Lang, 1995). Apoio convergente para a resposta de sobressalto como uma medida de valência emocional vem da literatura clínica. Indivíduos fóbicos devem apresentar maior emoção negativa e portanto respostas de sobressalto maiores ao estímulo fóbico, e este resultado foi relatado (Cook & Turpin, 1997). Por outro lado, indivíduos apresentando os critérios para a psicopatia são pensados ​​serem deficientes em processamento de ameaça. Consistente com esta idéia, tais indivíduos, em relação a indivíduos não-psicopatas, foram mostrados exibindo respostas de sobressalto menores para estímulos ameaçadores (Patrick, 1994).

Dois pontos importantes qualificam a formulação geral que o sobressalto ou alarme indexa valência emocional. Em primeiro lugar, foi demonstrado que a magnitude de sobressalto é sensível apenas à valência no contexto de estímulos de alta-excitação (Cuthbert, Bradley, e Lang, 1996; Lang, 1995). Em segundo lugar, o sobressalto parece ser particularmente útil para a compreensão da reatividade a estímulos percebidos, tais como fotos emocionais em relação a outros métodos de indução tais como o condicionamento ou a figuras de linguagem (imagery) (Mallan & Lipp, 2007; Miller, Patrick, & Levenston, 2002; Sabatinelli, Bradley, & Lang, 2001). No interior das tarefas de emoção-percepção, porém, vários fatores de confusão em potencial tenham sido descartados, incluindo a novidade do estímulo, os fatores de atenção, e modalidade sensorial (Bradley, Cuthbert, e Lang, 1990;. Bradley et al., 1993; Hawk & Cook, 1997; Lang et al., 1990 Lang et al., 1997).

Resumo. Juntos, os resultados resumidos aqui sugerem que a resposta de sobressalto é um marcador da dimensão valência de estados emocionais. Especificamente, tal como resumido na Tabela 1, a resposta de sobressalto é confiavelmente maior no contexto de estímulos negativos de alta-excitação e confiavelmente menor no contexto de estímulos positivos de alta-excitação. Ao mesmo tempo, a medida não parece avaliar os estados emocionais discretos.

ESTADOS CEREBRAIS COMO UMA MEDIDA DA EMOÇÃO

Após o teorizar precoce de Cannon (1931) e Bard (1928), muitos investigadores propuseram que os correlatos fisiológicos das emoções discretas são susceptíveis de serem encontrados no cérebro em vez de respostas fisiológicas periféricas (Buck, 1999; Izard, 2007; Panksepp, 2007). Pesquisadores assumiram este desafio através do uso de EEG e de métodos de neuroimageamento. Como esses métodos produzem muito diferentes tipos de dados, revisamos o EEG e os resultados de neuroimageamento separadamente.

Eletroencefalografia (EEG)

Embora a resolução temporal do EEG é excelente, sua resolução espacial é limitada (Dale & Sereno, 1993). Assim, as medidas de EEG tipicamente contrastam ativação em regiões bastante grandes do cérebro, muitas vezes na parte anterior (ou seja, a frente do cérebro) versus a posterior (ou seja, parte de trás do cérebro) em combinação com a distinção entre a ativação do hemisfério do lado esquerdo e do lado direito. A medida de EEG mais comum deste tipo é o poder alfa (banda de 8􏰀-13  Hz), que é pensada estar inversamente relacionada com a ativação cortical regionais (Allen, Urry, Hitt, e Coan, 2004). Em nossa avaliação, vamos nos concentrar no que é chamado de ''assimetria frontal'', o que contrasta o poder alfa na região frontal esquerda com poder alfa na região frontal direita, já que esta medida baseada na assimetria tem sido particularmente importante para a literatura sobre a emoção (Davidson, 1999).

Os primeiros estudos sobre assimetria frontal ligaram-na à valência emocional. Por exemplo, Tomarken, Davidson, e Henriques (1990) descobriram que uma maior ativação dos lados esquerdo na linha de base previu experiências mais intensas de emoção positiva do que de emoção negativa, usando uma medida característica da experiência emocional (embora apenas entre os indivíduos com perfis de assimetria EEG estáveis ao longo tempo). Na mesma linha, Davidson, Ekman, Saron, Senulis e Friesen (1990) constataram que a indução de emoções positivas por clipes de filmes levaram a uma maior ativação frontal do lado esquerdo subsequente a indução. Estes dados sugerem que a assimetria frontal avalia, ou pelo menos predispõe as pessoas à ​​experiências emocionais agradáveis (Davidson, 1999).

Estudos posteriores, no entanto, forneceram evidências convincentes de que a medida da assimetria EEG frontal reflete o equilíbrio relativo da motivação de aproximação versus a de evitação em maior medida do que reflete a valência emocional (Davidson, 1999). Por exemplo, Sutton e Davidson (1997) verificaram que a maior ativação do lado esquerdo previu tendências disposicionais em direção à aproximação, enquanto maior assimetria do lado direito previu tendências disposicionais em direção à evitação. Em contraste, a medida da assimetria frontal não previu tendências de disposição para com emoções positivas ou negativas, sugerindo uma associação da assimetria frontal com a aproximação-evitação e não com a valência.

Outras fontes de dados convergem para um modelo similar da assimetria frontal. De particular importância são os estudos que apontam ligam a raiva, uma emoção desagradável mas relacionada à aproximação, a uma maior ativação do hemisfério esquerdo (Harmon-Jones & Allen, 1998; Harmon-Jones, Lueck, Fearn, & Harmon-Jones, 2006). Além disso, tendências à preocupação, pensadas em ser motivadas à aproximação no sentido de estar relacionada com a resolução de problemas, têm sido associadas a uma atividade relativamente maior do EEG frontal-esquerdo (Heller, Schmidtke, Nitschke, Koven, & Miller, 2002). Assim, o consenso emergente parece ser que a assimetria do EEG frontal reflete, principalmente, os níveis de motivação de aproximação (hemisfério esquerdo) versus motivação de evitação (hemisfério direito).

Estudos de Neuroimageamento

Estudos de neuroimagem, usando as tecnologias de fMRI (imagem de ressonância magnética funcional) ou PET (tomografia por emissão de pósitrons), podem localizar a ativação em regiões do cérebro muito mais específicas do que o EEG. Por esta razão, foi proposto que os métodos de neuroimagem podem ser mais adequados do que o EEG para revelar especificidade emocional no cérebro (Panksepp, 1998). A fMRI mede a absorção de oxigênio no sangue (o nível de oxigenação do sangue dependente – contraste dependente dos níveis de oxigenação do sangue –sinalizado pelas letras BOLD; Detre & Floyd, 2000). A PET avalia a atividade metabólica no cérebro através da injeção de um isótopo radioativo as concentrações das quais podem ser medidas por um radioisótopo emissor de pósitrons (Volkow, Rosen, & Farde, 1997). Em ambas as tecnologias, a hipótese é que um sinal de maior reflete um maior fluxo de sangue para uma região particular do cérebro, o que por sua vez é pensado que reflete a ativação dessa região. Por uma questão de conveniência, em seguida, referimo-nos a ambas as fontes de dados em termos de “ativação” da região do cérebro relevante.

Deve-se mencionar que qualquer reação complexa, como um estado emocional é provável que envolva circuitos em vez de qualquer região do cérebro considerada isoladamente (Kagan, 2007; LeDoux, 2000; Storbeck, Robinson, & McCourt, 2006). No entanto, regiões particulares do cérebro podem desempenhar um papel relativamente maior ou menor dentro de circuitos maiores; assim, estudos de localização são significativos na identificação das regiões-chave envolvidas. Nossa revisão aqui resulta de duas meta-análises que examinam se o medo, o nojo/repugna, a tristeza e a felicidade pode ser ligadas à ativação em regiões cerebrais particulares (Murphy, Nimmo-Smith, e Lawrence, 2003; Phan, Wager, Taylor, e Liberzon, 2002). A maioria dos estudos revisados ​​foram incluídos em ambas as meta-análises, mas as duas meta-análises diferiram um pouco na sua abordagem analítica e, de fato, em suas conclusões, conforme documentado em seguida.

A relação aparente mais forte em ambas as meta-análises é entre os estímulos de medo e  a ativação da amígdala (Murphy et al., 2003;. Phan et al., 2002). No entanto, há razões para resistir à idéia de que a ativação da amígdala é um reflexo direto do medo. A amígdala é particularmente sensível a imagens assustadoras em relação a outros métodos de medo por indução, podendo, assim, ser mais estreitamente ligada à percepção emocional do que a experiência emocional (Wager et al., 2008). Além disso, a amígdala responde principalmente à incerteza e à ambiguidade, mesmo relativa aos estímulos de medo esperados e não-ambíguos  (LeDoux, 1996; Pessoa, Padmala, & Ungerleider, 2005; Whalen, 1998). Soma-se a isso outros dados que ligaram a ativação da amígdala às emoções negativas em termos mais gerais (Cahill et al., 1996) e até mesmo para recompensar o processamento e estados emocionais positivos (CanlI, 2004; Murray, 2007). Finalmente, demonstrou-se que os indivíduos com lesão bilateral da amígdala podem experimentar emoções negativas, incluindo medo (Anderson & Phelps, 2001 Anderson & Phelps, 2002). A preponderância de evidência sugere, assim, que a amígdala responde principalmente às entradas inesperadas de significado motivacional, em vez de a experiência do medo ou do processamento de estímulos relacionados com medo per se (Barrett, 2006b; Berridge, 1999; Holland & Gallagher, 1999).

Ambas as meta-análises concordam que os estímulos de repugna tendem a ser associados com a ativação da insula. No entanto, a meta-análise de Phan et al. (2002) constatou que uma grande variedade de induções emoção negativa ativavam a ínsula também. Assim, a idéia de que existe uma relação específica entre a ativação da ínsula e a repugna/desgosto parece problemática. Além disso, a insula suporta muitas funções psicológicas, incluindo o processamento de informações do gosto, aprendizagem implícita, memória procedural e de desempenho motor (por exemplo, Frank, O'Reilly, e Curran, 2006; Keele, Ivry, Mayr, Hazeltine, & Heuer de 2003 ; Kiefer & Orr, 1992). Por estas razões, é difícil para endossar a visão simples que ativação da ínsula pode ser equiparado com a repugna/nojo.

Considerando-se a tristeza, Phan et al. (2002) relatou que 60% dos estudos revisados encontram ativação no córtex pré-frontal medial (mPFC), mas Murphy et al. (2003) relataram o padrão mais forte de localização no córtex cingulado anterior supracallosal (ACC; com cerca de 50% dos estudos de manipulação da tristeza mostrando este efeito). Isto pode não ser uma discrepância importante porque o ACC supracallosal está bem ligado à áreas do mPFC, e, assim, um circuito ACC-􏰀mPFC podem estar envolvidos na tristeza. No entanto, Barrett (2006a) levantou uma preocupação importante sobre esses estudos, ou seja, que eles normalmente dependem de métodos de indução que envolvem alta demanda cognitiva, como recordar um evento passado que causou a tristeza. Este é um importante confusor potencial porque Phan et al. informou que induções de emoção cognitivamente exigentes ativam porções rostrais do ACC em maior medida do que as tarefas de processamento emocional passivas o fazem. Isto representa uma preocupação à reivindicação de uma correspondência de 1 para 1 entre a tristeza e a ativação de um circuito ACC􏰀-mPFC.

Os correlatos neurais da raiva e da felicidade tem sido ainda menos robustos do que os discutidos acima (Murphy et al., 2003;. Phan et al., 2002). Além disso, para os correlatos relatados, há fatores confundores potenciais, tais como os que se referem ao método de indução utilizado (Barrett, 2006a;. Wager et al., 2008). Além disso, há preocupações de que alguns dos estudos revisados ​​nas duas meta-análises usaram métodos que têm resolução espaço-temporal limitada. Assim, embora tenha havido algum progresso na compreensão dos correlatos neurais do medo, repugna/nojo, e potencialmente a tristeza, a perspectiva discretas das emoções ainda não produziu resultados replicáveis ​​fortes.

Ao mesmo tempo, as meta-análises fornecem suporte para uma perspectiva dimensional sobre a emoção e a atividade cerebral. Consistente com os dados de EEG relatados acima, estados emocionais relacionados com a aproximação parecem ser lateralizados à esquerda no cérebro (Murphy et al., 2003;. Wager, Phan, Liberzon, & Taylor, 2003). Em adição a estes padrões lateralizados, Wager et al. (2003) encontraram relações sistemáticas entre estados motivados à aproximação e as porções anterior e rostral do córtex pré-frontal medial (PFC), bem como o núcleo accumbens. Wager et al. (2003) também encontraram relações sistemáticas entre estados motivados à evitação e a amígdala (especialmente seus núcleos lateral e basolateral) e o ACC. Assim, há evidências crescentes de que os estados emocionais relacionados com a aproximação e a evitação envolvem circuitos cerebrais localizáveis ​​(Barrett & Wager, 2006; Wager et al., 2008).

Resumo. O EEG e os estudos de neuroimagem convergem para concluir que a relativa ativação do hemisfério esquerdo é o reflexo de estados relacionados à aproximação, enquanto que a ativação relativa do hemisfério direito é o reflexo de estados relacionados com a evitação. Regiões específicas do cérebro, também, parecem estar ligadas a estados de aproximação e evitação, como revisado na seção de estudos de neuroimagem. A Tabela 1 conclui, assim, que as medidas do SNC parecem ser sensíveis às dimensões de aproximação e evitação. Dito isto, porque os estados emocionais são complexos e provavelmente envolverão circuitos, métodos de neuroimagem que examinam atividade inter-relacionadas entre múltiplas regiões do cérebro pode deter maior promessa para compreender o como e o se a especificidade emocional é instanciada no cérebro.


COMPORTAMENTO COMO UMA MEDIDA DA EMOÇÃO

Darwin (1965) sugeriu que as emoções servem a uma função comunicativa evoluída e portanto deveria primar comportamentos que revelem o estado emocional de alguém aos outros (veja Ekman, 1992, para uma perspectiva relacionada). Outro conjunto de teorias conectam estados emocionais à disposições de ação, tais como as tendências primadas (primed) à fuga no caso do medo (Frijda, 1986; Lang et al., 1997). De acordo com essas teorias, deveria ser possível inferir um estado emocional de uma pessoa a partir de características vocais, exibições faciais, e comportamentos do corpo inteiro. Nós revisaremos a seguir o progresso nessa área de pesquisa. Porque o termo “expressão” implica que as emoções naturalmente desencadeiam um dado comportamento, nós referimos ao “comportamento” ou “movimento” ao invés de à “expressão”.

Características Vocais

As pessoas comumente relatam que elas inferem os estados emocionais dos outros a partir das características vocais (Planalp, 1998). Estudos científicos examinaram essa intuição bem comum pela decomposição das formas de ondas acústicas da fala e então avaliando se tais propriedades acústicas estão associadas com os estados emocionais do falante (Juslin & Scherer, 2005). Em nossa avaliação, nós nos concentramos sobre as medidas mais comuns, ou seja, a amplitude (por exemplo, o volume) e o tom (também conhecida como frequência fundamental ou “Fo”) da voz. Apesar de que os avanços na análise digital de formas de onda de som tornaram cada vez mais viável medir outras características vocais, tais como mudanças por minuto na vibração das pregas vocais (ver Bachorowski & Owren, 1995; Proto papas & Lieberman, 1997, para revisões), o trabalho deste tipo de complexidade está apenas começando e ainda há muito a ser aprendido (Juslin & Scherer, 2005).

A associação mais consistente relatada na literatura é entre a excitação e a tonalidade vocal, de tal forma que os níveis mais elevados de excitação têm sido associados a amostras vocais de alta frequência (Bachorowski, 1999; Kappas, Hess, & Scherer, 1991; Pittam, Gallois, e Callan, 1990). Por exemplo, Scherer, Banse, Wallbott e Goldbeck (1991) analisaram as características acústicas de frases emocionais sem sentido faladas por atores. Quando os atores estavam retratando emoções de alta excitação, como medo, alegria e raiva, o tom era maior do que quando estavam retratando emoções de baixa excitação, como a tristeza. Resultados similares foram relatados em estudos de características vocais seguidas de feedbacks de sucesso ou o fracasso e no contexto de estudos naturalísticos de emoção e de respostas vocais (Bachorowski & Owren, 1995).

Com base nos resultados deste tipo, Bachorowski e Owen (1995) sugeriram que a tonalidade da voz pode ser utilizada para avaliar o nível da excitação emocional experimentada atualmente pelo indivíduo. Por outro lado, tem sido mais difícil de encontrar características vocais que são sensíveis à valência (Bachorowski, 1999; Leinonen, Hiltunen, Linnankoski, e Laakso, 1997; Protopapas & Lieberman, 1997). Por exemplo, a raiva e a alegria são semelhantes em excitação emocional, mas diferentes em valência, mas ambas as emoções têm sido associadas à tonalidade vocal e à amplitude vocal comparáveis (Johnstone & Scherer, 2000).

No estudo mais abrangente que nós temos conhecimento, Banse e Scherer (1996) examinaram as relações entre 14 emoções induzidas e 29 variáveis ​​acústicas. Os autores descobriram que uma combinação de dez propriedades acústicas diferenciavam emoções discretas em uma extensão maior do que poderia ser atribuído à valência e à excitação somente. Por exemplo, a elação foi caracterizada por meio de energia de baixa freqüência (LF) e um aumento da tonalidade ao longo do tempo, enquanto que a raiva foi caracterizada por baixa energia LF e um decréscimo na tonalidade ao longo do tempo. No entanto, estas conexões eram complexas e multivariada na natureza, envolvendo comparações post hoc que eram novidades para a literatura e, em alguns casos, talvez não motivadas teoricamente. Assim, as replicações são fundamentais para se ter uma maior confiança nos resultados obtidos no presente estudo.

Comportamento Facial

Darwin (1965) argumentou que exibições/expressões faciais estão intimamente ligadas ao comportamento provável do organismo (por exemplo, mordendo no caso da raiva, o que resulta na exposição dos dentes). Darwin argumentou, ainda, que tais ligações de comportamento-emoção refletem mecanismos biologicamente evoluídos, na medida em que subservem ações relacionadas à sobrevivência e funções de comunicação. Ekman construiu sobre a análise de Darwin e mostrou que os comportamentos faciais prototípicos de pelo menos seis  emoções “básicas'' (raiva, medo, nojo, felicidade, tristeza e surpresa) poderiam ser reconhecidos trans-culturalmente (Ekman & Friesen, 1971; Ekman, Sorenson, & Friesen, 1969; Fridlund, Ekman, & Oster, 1987; Izard, 1971). É uma questão diferente – e uma mais pertinente à nossa revisão – considerar se as pessoas espontaneamente exibem tais comportamentos faciais prototípicos quando estão em um estado emocional particular.

Classificações de observador. Para examinar esta última questão, revisamos estudos de indução da emoção que procuraram vincular um estado emocional induzido a comportamentos faciais exibidos durante ou imediatamente após a indução. Muitos dos estudos relevantes quantificaram o comportamento facial usando codificação componencial. Na maioria dos sistemas de codificação componenciais, codificadores treinados detectam movimentos musculares faciais – ou ''ações faciais'' – utilizando protocolos de pontuação confiáveis (ver Cohn & Ekman, 2005; Ekman & Friesen, 1978, para uma revisão abrangente). O sistema de codificação componencial mais amplamente utilizado é o Sistema de Codificação da Ação Facial (FACS; Ekman & Friesen, 1978; Ekman, Friesen, e Hager, 2002). O FACS é um abrangente sistema de mensuração, anatomicamente fundamentado, que avalia 44 movimentos musculares diferentes (por exemplo, o aumento das sobrancelhas, o aperto dos lábios). Como tal, ele mede todas as possíveis combinações de movimentos que são observáveis ​​no rosto, em vez de apenas os movimentos que foram teoricamente postulados. Outros esquemas de codificação procuram racionalizar os esforços de codificação, centrando-se nas contrações musculares faciais que são pensados ​​em ter um significado emocional (por exemplo, Izard, 1971; Kring & Sloan, 2007).

Comportamentos faciais parecem indicar de forma confiável a valência do estado emocional de uma pessoa (Russell, 1994). Por exemplo, sorrisos Duchenne (''não-social'') – envolvendo o enrugamento dos músculos ao redor dos olhos – têm sido muitas vezes associado às experiências de emoção positiva (Ekman, Davidson, & Friesen, 1990; Frank, Ekman, & Friesen, 1993; Hess, Banse, & Kappas, 1995; Keltner & Bonanno, 1997). Em contrapartida, induções de emoção negativa são frequentemente associadas com um comportamento facial visível em que as sobrancelhas são abaixadas e aproximadas uma à outra (Kring & Sloan, 2007). Em um estudo recente, utilizando um sistema de codificação de ação facial mais molar, Mauss, Levenson, McCarter, Wilhelm, e Gross (2005) encontraram surpreendentemente grandes correlações entre a valência e os comportamentos faciais da pessoa, rs > .80.

O argumento para a especificidade da emoção do comportamento facial tem sido mais problemático e, na verdade, poucos estudos desse tipo têm sido relatados. Em um desses estudos, Rosenberg e Ekman (1994) expuseram aos participantes  clipes de filmes indutores de nojo e medo. Na sequência de cada clipe de filme, os participantes avaliaram sua experiência de oito emoções distintas. Subsequentemente, o comportamento facial filmado foi pontuado em termos das mesmos oito emoções discretas. Os pesquisadores, então, determinaram se as experiências discretas e os comportamentos faciais co-ocorreram além do nível do acaso. Este foi o caso, mas tais relações também foram fracas e não muito robustas em natureza (ver Bonanno e Keltner de 2004, para os resultados adicionais deste tipo).

Outros resultados, no entanto, apresentam desafios para todo o empreendimento do tratamento de comportamentos faciais como um reflexo do estado emocional da pessoa, independentemente se for adotado uma perspectiva dimensional ou discreta. Por exemplo, Schneider e Josephs (1991) descobriram que as crianças sorriam mais após o feedback do fracasso do que após o feedback do sucesso, claramente um problema para a suposição de que sorrir reflete estados emocionais positivos. Além disso, vários estudos descobriram que as associações entre os estados emocionais positivos e sorrisos faciais são mais fortes – e talvez exclusivos – em contextos em que uma audiência está presente (Fernandez-Dols & Ruiz-Belda, 1995; Fridlund, 1991; Kraut & Johnston, 1979). Tais resultados são condizentes com a análise de Darwin (1965) da função comunicativa do comportamento facial. Eles também sugerem que pode muitas vezes ser perigoso assumir que a exibição do comportamento facial fornece uma ''leitura direta'' do estado emocional de uma pessoa.

A eletromiografia (EMG). Comportamentos faciais potencialmente indicativos da emoção também podem ser avaliados com EMG facial, que envolve a medição do potencial elétrico dos músculos faciais através da colocação de eletrodos na face. Os dois grupos musculares mais frequentemente visados são o corrugador do supercílios (associado com franzindo das sobrancelhas) e o músculo zigomático (associado com a elevação dos cantos dos lábios). Os resultados desta literatura têm convergido para a utilidade destas medidas para avaliar a valência do estado emocional de uma pessoa, mas são geralmente vistos como limitados em compreender as reações emocionais discretas (Cacioppo, Berntson, Klein, & Poehlmann, 1997;. Larsen et al., no prelo, ver Vrana, 1993). A atividade do músculo corrugador diminui linearmente com a afabilidade de estímulos afetivos – respondendo a estímulos através de todo o espectro da valência, enquanto a atividade muscular zigomática aumenta linearmente com a afabilidade de estímulos afetivos – respondendo a estímulos agradáveis ​​(ver Bradley & Lang, 2000b; Lang et al., 1993; Larsen, Norris, & Cacioppo de 2003, para comentários). Cacioppo et al. sugeriu que a atividade do EMG facial reflete processos de avaliação implícitos (Dimberg, Thunberg, & Elmehed, 2000), mas mais trabalho deste tipo é necessário antes de vir a firmar conclusões (Larsen et al., 2003).

Comportamento de corpo-inteiro

Darwin (1965) apresentou a idéia de que os comportamentos corporais são biologicamente evoluídos para comunicar o estado emocional de um indivíduo para membros da mesma espécie. Embora a pesquisa sobre as expressões corporais da emoção é relativamente escassa (Adolphs, 2002; Van den Stock, Righart, & de Gelder, 2007), a pesquisa que existe aponta para a idéia de que, pelo menos, alguns estados emocionais podem ter distintas assinaturas do comportamento corporal. Em particular, o orgulho e o constrangimento têm sido associados a posturas corporais expansivas e diminutivas, respectivamente. Stepper e Strack (1993) descobriram que os participantes experimentaram maior orgulho se uma postura elevada tinha sido implicitamente manipulada de antemão. Os resultados do programa de pesquisa de Tracy e Robins confirmam a associação entre o orgulho e uma postura corporal expansiva (Tracy & Matsumoto, no prelo; Tracy & Robins, 2004; Tracy, Robins, & Lagattuta, 2005). Por outro lado, Keltner e Buswell (1997) descobriram que a vergonha é refletida em posturas corporais associadas com o minimizar da presença espacial do indivíduo, um resultado consistente com dados etológicos sobre a dominância-submissão e posturas comportamentais resultantes (Mazur, 2005).

Embora o constrangimento e o orgulho tenham sido associados à posturas corporais distintas, eles não têm sido associados a comportamentos faciais distintos (Keltner & Buswell, 1997; Robins e Tracy, 2004). App, McIntosh, e Reed (2007) apresentaram uma análise sócio-funcional que forneceu uma justificativa do por que algumas emoções estão principalmente associadas a comportamentos faciais, ao passo que outras emoções estão principalmente associadas a comportamentos de corpo inteiro. Eles sugeriram que algumas emoções, ou seja, raiva, medo, nojo, felicidade e tristeza, servem essencialmente à funções adaptativas em nível individual e devem, portanto, estar ligada a comportamentos faciais em vez de comportamentos de corpo inteiro, que são potencialmente perturbadores das interações de um indivíduo com o ambiente. Por outro lado, os autores sugerem que as emoções, tais como o constrangimento, a culpa, o orgulho e a vergonha são centralmente associadas à posição de uma pessoa dentro de uma hierarquia de status social. Essas emoções, então, deveriam estar mais sistematicamente associada a comportamentos que sinalizam para o grupos maiores de indivíduos o seu estado emocional atual (ou seja, os comportamentos de corpo-inteiro). Análises funcionais desse tipo parecem promissoras para a compreensão das associações entre emoções e comportamento, e mais pesquisa é incentivada.

Resumo. A avaliação das características vocais parece ser especialmente útil na compreensão dos níveis de excitação emocional, com níveis mais elevados de tonalidade e amplitude associados com níveis mais elevados de excitação (Tabela 1). Por outro lado, as tentativas de associação da valência emocional ou emoções discretas à características vocais foram encontradas com sucesso parcial na melhor das hipóteses, embora métodos mais sofisticados podem ser capazes de fazê-lo no futuro. Assim, conclui-se que as características vocais são principalmente reflexivas da dimensão da excitação emocional.

Em contraste, os comportamentos faciais parecem ser particularmente sensíveis à valência do estado emocional de uma pessoa (Tabela 1). Uma advertência importante, porém, é que uma série de fatores, como o sexo, a cultura, a expressividade e a presença inferida de uma audiência, provavelmente moderam​​relações entre estados emocionais e comportamentos faciais. Isto pode ser verdade, de tal forma, que a ausência de alterações no comportamento facial não deve ser equiparada com a ausência de uma emoção, e vice-versa.

A postura corporal não recebeu uma grande quantidade de atenção como uma medida de emoção. No entanto, os estudos que têm sido realizados sugerem que o orgulho e a vergonha estão associados com posturas expansivas versus posturas diminutivas, respectivamente (Tabela 1). A análise de App e colegas sugere que essas associações podem ser específicas para emoções relacionadas ao status social (Tabela 1). Se isto prova ser o caso, as medidas de postura corporal pode ser singulares entre as medidas que revisamos no sustento de uma perspectiva emocional discreta.

DISCUSSÃO GERAL

Tendo revisado medidas dos principais componentes da resposta emocional e sua sensibilidade a diferentes aspectos do estado emocional, agora comentamos sobre mais duas questões gerais que atravessam nossa revisão. A primeira questão é saber se as abordagens dimensionais ou as discretas capturam melhor a estrutura de respostas emocionais. A segunda questão é se as medidas múltiplas de emoção convergem, como é sugerido pelo modelo consensual da Figura 1.

Medidas da resposta emocional: Dimensional ou discreta?

As emoções foram conceituadas tanto em termos dimensionais e discretos. As perspectivas dimensionais argumentam que os estados emocionais são organizados por fatores subjacentes tais como a valência, a excitação e o estado motivacional (Barrett & Russell, 1999;. Watson et al., 1999). As perspectivas da emoção discreta, ao contrário, sugerem que cada emoção (por exemplo, raiva, tristeza, felicidade) tem correlatos experimentais, fisiológicos e comportamentais singulares.

Nossa revisão tendeu apoiar a perspectiva dimensional. Por exemplo, nós revisamos a evidência para a idéia de que a especificidade da emoção tem sido difícil de estabelecer nos domínios da atividade do SNA, das respostas de sobressalto moduladoras de afeto e das características vocais. Mesmo em relação às medidas de emoção que estão associadas a um maior grau de especificidade, como o comportamento facial, as estruturas dimensionais parecem ter valor explicativo substancial. Assim, uma conclusão de nossa revisão é que as dimensões parecem capturar a maior parte da variação das respostas emocionais.

Perspectivas dimensionais e discretas podem ser reconciliadas em certa medida pela conceitualização das emoções distintas em termos de combinações de múltiplas dimensões (por exemplo, raiva = valência negativa, alta excitação, e alta motivação de aproximação) que aparecem discretas porque são salientes (Carver, 2004; Haidt & Keltner, 1999). Se as emoções discretas são definidas desta maneira, não é necessário nenhum antagonismo entre os dois pontos de vista (Haidt & Keltner, 1999). No entanto, na medida em que as perspectivas dimensionais são suficientes para capturar a essência de determinados estados emocionais, tais perspectivas devem ser favorecida porque elas são mais parcimoniosa (Watson, 2000). Além disso, os dados disponíveis são incompatíveis com a noção de que os estados emocionais discretos são categoricamente diferentes um do outro, isto é, que eles são “tipos naturais” (cf. Barrett, 2006a).

É claro, alguns dados diferenciam estados emocionais além dos três fatores de valência, excitação e aproximação-evitação (App et al., 2007;. Banse & Scherer, 1996; DeSteno, Petty, Wegener, e Rucker, 2000; Lerner, Dahl, Hariri, & Taylor, 2007; Rosenberg & Ekman, 1994). Pode ser que as investigações usando métodos mais sofisticados (por exemplo, abordagens ao SNA que levam em conta combinações de variáveis ​​ou abordagens ao fMRI que examinam a atividade nos circuitos cerebrais em vez de em regiões específicas do cérebro), vão apoiar a perspectiva das emoções discretas além do que foi mostrado até agora.

Até que ponto as diferentes medidas de emoção convergem?

Nossa revisão focou em cada medida de emoção individualmente. Assim, uma importante questão que permanece é a extensão em que diferentes medidas de emoção convergem no compreender do estado emocional de uma pessoa. A idéia de que os componentes da emoção devem convergir é consistente com as teorias que invocam a idéia de ''programas de afeto''. Quando esses programas são ativados, de acordo com estas teorias, deve haver outputs convergentes na experiência emocional, na fisiologia e no comportamento (veja a Figura 1 para um modelo deste tipo).

Este modelo não tem sido bem apoiado em estudos que examinaram a convergência dos sistemas de resposta. As correlações entre múltiplas medidas de emoção são moderadas na melhor das hipóteses, pequenas em estudos típicos, e incoerentes através dos estudos (eg, Cacioppo et al., 2000;. Lang, 1988;. Mauss et al., 2004). Os fatores psicométricos poderiam desempenhar algum papel na falta de convergência tipicamente observada. Por exemplo, qualquer medida de emoção é comumente associada com variância única a ela, por sua vez o rendimento de altos níveis de convergência é difícil de encontrar. Além disso, a maioria dos estudos anteriores avaliaram a coerência em termos de correlações entre-indivíduos, medindo, assim, se os indivíduos que respondem fortemente em um componente também respondem fortemente em outro. Tem-se observado que tais análises entre-indivíduos pode não ser o melhor teste de coerência na resposta, mas que as associações no intra-individuais de medidas ao longo do tempo denotam mais de perto a coerência do sistema de resposta como implicado pelas teorias da emoção descritas acima (Buck, 1980; Lacey, 1967; Stemmler, 1992).

Estudos recentes têm abordado algumas dessas limitações psicométricas por meio de medidas válidas e confiáveis ​​e usando designs intra-indivíduos (Mauss et al., 2005;. Reisenzein, 2000; Ruch, 1995). Estes estudos encontraram níveis mais elevados de convergência do que estudos anteriores, mas as correlações relevantes ainda estavam em força entre baixas à moderadas (por exemplo, Mauss et al., 2005). Em suma, as questões psicométricas não parecem ser suficientes para compreender os baixos níveis de convergência observadas em estudos deste tipo.

A típica falta de convergência forte entre as múltiplas medidas de emoção tem três implicações importantes. Em primeiro lugar, parece que o constructo da ''emoção'' não pode ser capturado com qualquer uma medida consideradas sozinhas (Lang, 1988; Mandler, 1975; Rachman, 1978). Em outras palavras, as emoções são multiplamente determinadas, em vez de caracterizadas por um processo uni-dimensional tal como ilustrado na Figura 1. Em termos práticos, quanto mais medidas de emoção sejam obtidas e quanto melhor elas sejam adaptadas ao contexto particular e à questão da pesquisa, o mais provável que alguém aprenderá a partir de um estudo particular (cf. Larsen & Prizmic- Larsen, 2006). Em segundo lugar, as dissociações entre as diferentes medidas de emoção podem ser relativamente normais ao invés de necessariamente reflexo de um sistema desregulado. Neste contexto, a pesquisa que examina os mecanismos que medeiam e explicam dissociações de sistemas de resposta particulares será particularmente útil. Em terceiro lugar, é provável que existam variáveis ​​moderadoras que afetam a convergência entre as medidas de emoção (Fridlund, Schwartz, & Fowler, 1984; Lacey, Bateman, & Vanlehn, 1953; Picard, Vyzas, & Healey, 2001). Se for este o caso, então seria necessária uma abordagem mais idiográfica para compreender a natureza da coerência da resposta emocional (Malmo, Shagrass, & Davis, 1950).

CONCLUSÕES

A presente revisão analisou se os estados emocionais estão associados à padrões específicos e invariantes da experiência, da fisiologia e do comportamento. Sugerimos que as medidas de resposta emocional parecem ser estruturadas de acordo com as dimensões (por exemplo, valência, excitação) ao invés de estados emocionais discretos (por exemplo, tristeza, medo, raiva). Além disso, diferentes medidas de emoção parecem sensíveis a diferentes aspectos dimensionais do estado (por exemplo, EMG facial é sensível à valência, enquanto que a condutância da pele é sensível à excitação) e não estão fortemente relacionados entre si. Em termos práticos, então, não há uma medida de resposta emocional ''padrão ouro''. Para as teorias da emoção, isso significa que não há qualquer ''coisa'' que defina a emoção, mas sim que as emoções são constituídas por processos variáveis múltiplos, situacionais  e individuais.

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Cristianismo e Democracia[1]
John Dewey

Tradução: Kevin D. S. Leyser

[...] Jesus não tinha nenhum culto ou rito a impor; nenhuma forma específica de adoração, nenhum ato específico chamado religião [...] Ele proclamou este mesmo tipo de organização de atos especiais e instituições como parte das imperfeições da vida. “A hora chegou em que vocês adoraram ao Pai nem nesta montanha nem em Jerusalém [...] a hora chegou e agora é quando verdadeiro adoradores adorarão ao Pai em espírito e em verdade” [Jo 4] – a hora quando a adoração deveria ser simplesmente a expressão livre e verdadeira do homem em seu agir. Jesus não tinha nenhuma doutrina especial para impor – nenhum conjunto especial de verdades rotulado religioso. “Se qualquer homem quiser fazer a vontade dele, ele conhecerá a respeito da doutrina” [Jo 7.17]. “E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”[Jo 8.32]. [...] Não havia nenhuma verdade religiosa que Ele veio ensinar; ao contrário, a sua doutrina era que a Verdade, não importando como fosse nomeada ou compartilhada pelo homem, é uma assim como Deus é um; que apreender a verdade e viver por ela é a religião. Dr. Mulford  em sua Republic of God, mantêm que o Cristianismo não é uma religião, não tendo nenhum culto e nenhum dogma próprio para marcar-lo fora da ação e da verdade em geral. A própria universalidade do Cristianismo o impede de ser uma religião. O Cristianismo, Dr. Mulford sustenta, não é uma religião mas uma revelação.

A condição da revelação é que ela revela. O cristianismo, se universal, se revelação, deve ser o contínuo desdobramento, descoberta incessante do sentido da vida. Revelação é a certificação da vida. Não pode ser mais do que isso; necessita ser tudo isso. [...] O Cristianismo em sua realidade não reconhece nenhuma atitude sectarista ou exclusivista. [...] se for identificado com algum ato especial, eclesiástico ou cerimonial, nega a sua base e o seu destino. A alegação que o Cristianismo faz é que Deus é a verdade, e como verdade Ele é amor e se revela totalmente ao homem, mantendo nada de si mesmo; que o homem é tão um com a verdade assim revelada que nem é tanto revelado à ele quanto nele, ele é sua encarnação; que pela apropriação da verdade, e a identificação com ela, o homem é livre; livre negativamente, livre do pecado, livre positivamente, livre para viver a sua própria vida, livre para expressar a si mesmo, livre para tocar sem permissões ou limitações sobre o instrumento dado a ele – o meio dos desejos e forças naturais. Como revelação, Cristianismo precisa revelar. O único teste através do qual ele pode ser experimentado são os testes de fato – são as suas verdades constantemente certificadas e apropriadas pelo homem? Uma vida leal à verdade traz liberdade?

É óbvio que nas outras religiões não há nenhuma grande inconsistência na declaração de que certos homens são representantes especiais da religião, insistindo que há certas ideias específicas para se manter, certos atos especiais para realizar, como religiosos. Nenhuma outra religião nunca generalizou os seus fundamentos e os seus motivos, apreendendo a universalidade da verdade, e o seu conseqüente poder auto-revelador para todos. Mas no Cristianismo a tentativa de fixar a verdade religiosa uma vez por todas, mantê-la delimitada à certos limites rígidos, dizer que isso e somente isso é Cristianismo, é auto-contraditório. A revelação da verdade necessita continuar contanto que a vida tenha novos significados para desdobrar, novas ações para propor. Uma organização pode ruidosamente proclamar sua lealdade ao Cristianismo e ao Cristo; mas se, em asseverar sua lealdade, assume um certo tipo de tutela da verdade Cristã, uma certa prerrogativa em estabelecer o que é essa verdade, uma certa exclusividade em administrar as condutas religiosas, se, resumindo, a organização tenta pregar uma fixidez em um mundo em mudança e proclamar um monopólio em um mundo comum – tudo isso é um sinal que o Cristianismo real está agora funcionando fora da e além da organização, que a revelação está ocorrendo em canais mais amplos e mais livres.

A organização histórica chamada igreja aprendeu a pouco uma lição desse tipo. Houve um tempo em que a igreja presumiu a peremptoriedade de suas próprias ideias sobre as relações de Deus e o mundo, e as relações da natureza e o homem. Por séculos a igreja visível presumiu que era a guardiã e administradora da verdade nestas questões. Não somente empenhou-se contra o nascimento e crescimento da ciência como falsa, mas rotulou essa ciência como ímpia e anti-cristã, até a ciência quase aprender a chamar-se por esse nome tão impositivamente e continuamente fixado sobre ela. Mas ocorreu então como sempre – a verdade existe não em palavra, mas em poder. Como na parábola dos dois filhos, o que jactou-se de sua prontidão para servir na vinha não foi, enquanto o irmão mais novo que disse que ele não iria, foi à vinha e pela obediência à verdade revelou a verdade mais profunda da unidade da lei, a presença de uma força viva contínua, a unidade vital e conspiradora de todo o mundo. A revelação foi feita no que chamamos de ciência. A revelação não podia ser interrompida por causa da ausência de fé da igreja, ela forçou seu caminho para fora no novo canal.

Novamente, eu repito, revelação deve revelar. Não é simplesmente uma questão da realidade declarada, é também uma questão de compreensão daquele a quem a realidade é declarada. Uma religião hindu, uma religião grega, poderá colocar suas verdades religiosas em mistérios que não foram compreendidos. Uma religião de revelação necessita desvendar e descobrir; necessita levar a sua verdade à consciência do indivíduo. Revelação compromete, em poucas palavras, não somente declarar que a verdade das coisas é tal e tal, compromete dar ao indivíduo órgãos para a verdade, órgãos pelos quais ele poderá apreender, ver e sentir, a verdade.

Fazer vista grossa para este aspecto da revelação é o mesmo que ficar com a palavra mas negar o fato. Já há tempo, os teólogos, assim como os filósofos, tem apontado suas armas em direção ao agnosticismo, a doutrina que Deus, e as verdades fundamentais da vida, estão ocultas ao conhecimento humano. O que é verdade para um deve ser verdade para outros, e se o agnosticismo é falso, falso também é a doutrina que a revelação é o processo no qual um Deus externo declara ao homem certas afirmações fixas sobre Si mesmo e os métodos de Seu obrar. Deus é essencialmente e somente o auto-revelador, e a revelação é completa somente na medida em que os homens passam a realizá-Lo.

Fica aqui a primeira parte do assunto. O Cristianismo é revelação, e revelação significa descoberta efetiva, a certificação atual ou garantia ao homem da verdade de sua vida e da realidade do Universo.
É neste ponto que a significância da democracia aparece. O reino de Deus, como Cristo disse, está entre nós, ou em nosso meio. A revelação é, e pode ser, somente na inteligência. Soa estranho ouvir homens chamarem a si mesmos professores cristãos, e ao mesmo tempo condenar o uso da razão e do pensamento em relação a verdade cristã. Cristianismo como revelação não é/está somente para, mas é/está no pensamento e razão do homem. Além de todos outros meios de se apropriar da verdade, além de todos os outros órgãos de apreensão, está ação própria do homem. O homem interpreta o Universo no qual ele vive em termos de sua própria ação no momento dado. Se Jesus Cristo tivesse feito uma afirmação absoluta, detalhada e explícita sobre todos os fatos da vida,  tal afirmação não teria algum sentido – não teria sido revelação – até que os homens começassem a perceber em suas próprias ações a verdade que ele declarou – até que eles mesmos começassem a vivê-la. Em última análise, a ação própria do homem, o movimento de sua própria vida, é o único órgão que ele tem para receber e apropriar-se da verdade. A ação do homem é encontrada em seus relacionamentos sociais – o modo no qual ele se conecta com seus companheiros. É a organização social do homem, o estado em que ele está expressando a si mesmo, que sempre tem e sempre deverá estabelecer a forma e  “soar o tom” para o entendimento do Cristianismo.

O próprio Jesus ensinou que o indivíduo é livre em sua vida porque o indivíduo é o órgão da Verdade absoluta do Universo. Eu vejo nenhuma razão em acreditar que Jesus quis dizer isso a não ser em seu sentido mais geral; Eu não vejo nenhuma razão para pressupor que ele quis dizer que o indivíduo é livre simplesmente em alguma direção específica ou departamento; Eu não vejo nenhuma razão para pressupor que os seus ensinamentos sobre a acessibilidade da verdade ao homem precisa ser entendido de qualquer modo não-natural ou limitado. Contudo o mundo ao qual essas ideias foram ensinadas não se encontrou livre, e não encontrou o caminho à verdade tão direta e aberta. Escravidão de todos os tipos abundaram; o indivíduo se encontrou escravizado a natureza e aos seus companheiros. Ele encontrou ignorância ao invés de conhecimento; escuridão ao invés de luz. Esses fatos fixaram o método de interpretação para aquele tempo. Era impossível que os ensinamentos de Jesus fossem entendidos em seu sentido direto e natural quando todo mundo existente de ação parecia contradizê-los. Era inevitável que esses ensinamentos devessem ser defletidos e distorcidos pelos seus mediadores de interpretação – as condições existentes de ação.

O significado da democracia como revelação é que ela nos permite acesso a verdades em um sentido natural, cotidiano e prático, o que de outro modo só poderia ser apreendido em um sentido não-natural ou sentimental. Eu pressuponho que a democracia é um fato espiritual e não uma mera peça do maquinário governamental. Se não há nenhum Deus, nenhuma lei, nenhuma verdade no Universo, ou se esse Deus é um Deus ausente, que não está realmente trabalhando, então nenhuma organização social possui qualquer significado espiritual. Se Deus é/está, como Cristo ensinou, na raiz da vida, encarnado no homem, então a democracia possui um significado espiritual que nos convêm não deixar pra trás. Democracia é liberdade. Se a verdade está no fundamento das coisas, liberdade significa dar a verdade uma chance de mostrar a si mesma, uma chance de brotar das profundezas. Democracia, como liberdade, significa afrouxamento dos laços, o desgastar das restrições, a ruptura de barreiras, das paredes do meio, de repartições. Através desse acabar com restrições, qualquer verdade, qualquer realidade que há na vida do homem é liberta para expressar-se. Democracia é, como liberdade, a libertação da verdade. A verdade torna livre, mas tem sido o obrar da historia a libertação da verdade – quebrar as paredes de isolamento e de interesses de classes que a manteve presa e submissa. A ideia de que o homem pode promulgar “lei” na esfera social mais do que na chamada esfera “física” simplesmente mostra com quão pouca seriedade, quão pouca fé, os homens tomaram para si a concepção de Deus encarnado na humanidade. Homem só pode descobrir a lei des-cobrindo-a, revelando-a. Ele a pode des-cobrir somente pela libertação da vida, pela libertação da expressão, para que então a verdade possa aparecer com mais consciência e mais força propulsora.

A unificação espiritual da humanidade, a realização da irmandade dos homens, tudo o que Cristo chamou de Reino de Deus é exatamente a expressão mais abrangente dessa liberdade da verdade. A verdade não está completamente livre quando ela entra na consciência de algum indivíduo, para ele deleitar a si mesmo com ela. Está livre somente quando ela movimenta-se para dentro e através deste indivíduo favorecido aos seus companheiros; quando a verdade que vem à consciência de um, se estende e se distribui a todos para se tornar o Common-wealth, a República, os assuntos públicos. As paredes quebradas pela liberdade que é democracia, são todas as paredes que impedem o movimento completo da verdade. É na comunidade da verdade então estabelecida que a fraternidade, que é democracia, tem o seu ser. A suposição de que os laços que unem os homens juntos, de que as forças que unificam a sociedade, podem ser outras que as próprias leis de Deus, podem ser outras que a extensão do obrar de Deus na vida, é uma parte da mesma descrença prática na presença de Deus no mundo a qual eu já mencionei. Aqui então nós temos democracia! Em seu lado negativo, o rompimento das barreiras que mantém a verdade de encontrar expressão, em seu lado positivo, o assegurar as condições que dão à verdade o seu movimento, a sua completa distribuição ou serviço. Não é nenhum acaso que a crescente organização da democracia coincide com o ascensão da ciência, incluindo o maquinário do telégrafo e locomotiva para distribuir a verdade. Há apenas um fato – o movimento mais completo do homem à sua unidade com seus companheiros através da realização da verdade da vida.

Democracia aparece então como o meio pelo qual a revelação da verdade é conduzida. É na democracia, a comunidade de ideias e interesse através da comunidade de ação, que a encarnação de Deus no homem (homem, ou seja, como órgão da verdade universal) se torna um coisa presente, viva, obtendo seu sentido ordinário e natural. Essa verdade é trazida à vida; sua segregação removida; é feita uma verdade comum promulgada em todos os departamentos de ação, não em uma esfera isolada chamada religião.

Está a verdade isolada prestes a dar boas vindas a sua realização, completude, na verdade comum? Está a revelação parcial pronta para morrer como parcial para que possa viver na integral? Essa é a questão prática que nos confronta. Podemos render – não somente o mal per se – mas o bem adquirido para que possamos assegurar um bem mais abrangente? Devemos dar boas vindas a revelação da verdade agora fluindo na democracia como uma realização mais ampla da verdade formalmente asserida em canais mais ou menos limitados e com significado mais ou menos não-natural? Na medida em que a democracia vem à consciência em si mesma, se torna cônscia de sua própria base e conteúdo espiritual, essa questão nos confrontará mais e mais.

[...]Vai a antiga formulação, herdada dos dias quando a organização da sociedade não era democrática, quando a verdade estava apenas começando a obter sua liberdade e sua unidade através da liberdade, – vai esta formulação lutar e contender contra a revelação mais ampla porque ela vem do que aparenta ser fora de seus próprios muros, ou ela vai dar boas vindas alegremente e lealmente, enquanto uma expressão mais integral de sua própria ideia e propósito?

[...]Pode alguém pedir por um trabalho melhor e mais inspirador? Certamente fundir em um só os motivos sociais e os religiosos, romper as barreiras do Farisaísmo e da auto-afirmação que isola o pensamento religioso e a conduta da vida comum do homem, para realizar o estado como uma Commonwealth da verdade – certamente essa é uma causa digna de se lutar. [...]


[1] Uma comunicação entregue no Sunday Morning Services da Student’s Christian Association, University of Michigan, 27 de Março, 1892. Primeiramente publicado em Religious Thought na University of Michigan (Ann Arbor: Register Publishing Co., Inland Press, 1893, p. 60-69.)

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