“O Prazer Demanda Tempo.”
Os maiores deleites da vida estão nos momentos vividos plenamente, autenticamente. Estão nas minúcias, nos detalhes, nos encontros inesperados, não planejados, no espanto com o novo do óbvio.
É preciso reencantarmo-nos com a vida que vivemos, desfrutar da nossa própria companhia, do encontro único e diário que temos com os que amamos, pois cada novo encontro é exatamente isso, NOVO.
Desde cedo somos ensinados (programados) a viver focados em uma meta, um propósito, uma conquista de “ser alguém na vida”, “realizar um sonho ou plano” que supostamente nos definiria como alguém.
Nada contra planos e sonhos, mas não é uma meta ou propósito que te definirá ou te realizará como “alguém”. Não é lá que vais finalmente te encontrar! ... pois, se em toda essa jornada você não vive sendo você, não é você que estará lá ou em qualquer suposta linha de chegada.
A vida é realizada na jornada, em cada passo, cada manhã, cada dia e anoitecer, cada escolha, palavra, olhar, entre os turbilhões caóticos e profundezas tranquilas e avassaladoras de nossas emoções e relações diárias. É quando voltamos nosso olhar (e todos nossos sentidos) para a vida vivida que nos encontramos e passamos a desfrutar do prazer do processo constante de ser alguém.
Pra ser demanda tempo. Prazer demanda tempo. Tempo vivido, gasto, investido e deleitado em viver intensamente, autenticamente cada instante da sua vida.
Como já disse o saudoso Rubem Alves:
“O prazer quer tempo. O prazer demanda tempo, então a gente tem que gastar tempo, porque a vida é pra isso, é pra gastar tempo. Quando a gente diz que está ganhando tempo, na realidade a gente não está ganhando tempo, a gente está estragando tempo.”
Perdemos o prazer na vida e em suas delicadezas, belezas profundas nas minúcias do sorriso demorado e verdadeiro, daquele abraço sem a pressa de sair, daquela conversa a dois em um encontro inesperado que vira café da tarde e janta, sem precisar olhar para o relógio, da atenção a voz, ao rosto, ao corpo, sem disputar espaço com os alertas do celular, do toque sem presa, o deslizar dos dedos, o silêncio repleto de segredos e mistérios revelados nos gestos, carícias e olhar...
Perdemos o prazer de encontros com nós mesmos, com o outro e com o mundo como fazíamos quando ganhávamos um disco de vinil novo da nossa banda favorita. Até o desembrulhar do plástico era delicado e apreciado, líamos todas as escritas impressas, deliciávamos todas as imagens e detalhes. Então ligávamos a vitrola, e com todo cuidado colocávamos lá o disco, bem devagarinho posicionávamos a agulha, e então, rapidamente sentávamos em um lugar bem aconchegante, normalmente no chão com travesseiros, e ali ficávamos (com a capa do vinil na mão) explodindo de expectativa, apreciando cada nota, cada som, até o final do lado A... seguindo maravilhados para o lado B... hoje, nossos encontros são parciais, fragmentados, o “fast forward” já está desde sempre programado... e nós, de nós mesmos, do outro e do mundo, desde sempre alienados.
Pra ser demanda tempo. Prazer demanda tempo.
Invista tempo em você. Volte a ter prazer em viver.
Kevin D. S. Leyser
Que linda sua reflexão , parece uma poesia!
ResponderExcluirCom certeza tocará muitos corações , assim como me tocou e me fez refletir 🙏🏻
Que linda sua reflexão , parece uma poesia!
ResponderExcluirCom certeza tocará muitos corações , assim como me tocou e me fez refletir 🙏🏻