sábado, 28 de abril de 2018

Libertas quae sera tamen

Libertas quae sera tamen 

Um sonho, ainda um sonho, de não "nivelar o outro" (como diria Kierkegaard) entre a "massa dos iguais", assim como de não rejeitar/desprezar o outro como indigno por não ser como eu - como penso, desejo, creio, imagino que "deveria" ser.

Um sonho em que a liberdade seria o chão comum da unidade (com-unidade), em que um não deixaria de ser quem é, e poderia mesmo assim estar-com um outro que também é.

Um sonho de liberdade, o terreno fértil em que germina o amor. Como diria Rorty - e que ouçam os inveterados "defensores da 'Verdade'" - "Cuidem da liberdade, que a verdade cuidará de si mesma".

Este é um sonho concreto, lembra-me de meus próprios versos...:

"Desadormeço do dogmático torpor
Pálpebras pesadas, excisadas pela angústia e dor
Desnudado de escusas, vulnerável ao amor e à vida
Insurreto do leito de morte das palavras vazias
Descalço, cônscio do humo na epiderme
Do gérmen dos passos no mundo de Hermes
Não ouso evadir o sonho concreto
Do outro e eu sob o mesmo teto
Do encontro na solidão
Do desespero rasgando a pele espessa da escravidão
Do toque de ásperas mãos
Tateando o corpo da libertação
Dos inaudíveis gemidos, daqueles não escolhidos
Perfurando os ouvidos ungidos e altivos
Da púrpura tinta nas páginas de histórias de glória
O sangue e suor daqueles, daquelas relegadas à memória".

Difícil esperançar por tal liberdade, em dias como estes, mas hoje é propício lembrar que mesmo tardando, vale a pena por ela lutar.

“Libertas quae sera tamen respexit inertem
Candidior postquam tondenti barba cadebat;
Respexit tamen et longo post tempore venit [...]" (Publius Vergilius Maro)
Trad:
"A liberdade que (é) tardia, contudo olhou (para mim) inerte
Depois que a barba caía mais branca de mim, que a cortava;
Olhou para mim, todavia, e veio depois de longo tempo [...]"

Libertas quae sera tamen - Liberdade ainda que tardia!


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